Dia Mundial da Conservação do Solo propõe reflexões
No mês de maio, comemoramos o Dia Mundial de Conservação ao solo e o Engenheiro Agrônomo William Alvarenga Portela, nos deu uma entrevista acerca do tema. Ele nos contou um pouco do cenário do solo brasileiro, falou da importância em conservarmos o solo para continuarmos pioneiros na agricultura mundial e a missão do Engenheiro Agrônomo nesse contexto.
Confira abaixo a entrevista completa:
1-A conservação do solo está diretamente relacionada com a conservação ambiental? Por que?
As duas áreas estão completamente interligadas. No século 19, o Brasil começou a ser “desflorestado”, um processo de retirada de árvores para que começássemos o plantio de espécies comestíveis no nosso país (o que também aconteceu em outros países). Por volta de 1880, esse processo de retiradas de árvores, principalmente das margens dos rios, córregos e nascentes, fez com que o solo ficasse completamente exposto, empobrecendo-o.
Os processos erosivos laminares ou em sulco fazem o carreamento da terra, das bordas para dentro dos córregos, prejudicando-os, pois a terra polui o manancial com o assoreamento. Então além de causar danos para o solo, a erosão faz com que as camadas de terra fertilizadas sejam carreadas, tornando a terra empobrecida. Esse processo tem ao menos três formas: erosão laminar, erosão em sulco (grave) e voçoroca (extremamente grave – pois a terra é removida desde as nascentes até o curso d`agua).
Com o empobrecimento da terra, os microrganismos que precisam estar presentes começam a se deteriorar por conta da exposição solar, e, a melhor parte do solo é carreada para os córregos, trazendo os malefícios que citei acima.
Para a agricultura a erosão é péssima pois retira a camada mais rica do solo. Já para o meio ambiente, a situação é ainda pior, porque toda a vegetação arbórea e a de sub-bosque (mistura de mudas e pequenas plantas) é removida e ambas são essenciais para a fauna e a flora.
Dentro desse contexto, surge a necessidade de existirem práticas conservacionistas como o plantio em nível, o uso de substrato orgânico e/ou fertilizantes químicos para enriquecer essas áreas e obviamente, minimizar o uso de agrotóxicos.
2- Qual a importância de conservar o solo?
Os principais motivos de conservar o solo são:
– Manter o equilíbrio dos microrganismos que existem na camada de solo normalmente aproveitável pela agricultura;
– Evitar a perda de solo por erosão que afeta a camada mais fertilizante – rica em nutrientes que é a camada que chamamos de horizonte A, primeira camada de solo que permeia cerca de 40 a 50cm da superfície do solo para dentro;
– Conservando o solo mantemos o relevo como é originalmente evitando o assoreamento e a poluição dos cursos d`agua que normalmente abastecem os municípios e até mesmo a agricultura local.
3 – Como está o cenário de nossos solos?
É importante saber que o Brasil é formado por diversos tipos de solos. No Estado de São Paulo temos solos muito ricos e férteis na região de Ribeirão Preto, Limeira, Campinas, Araraquara que são solos no passado chamados de Chernozen ou Latossolo vermelho- amarelo.
O Latossolo-amarelo, normalmente existe na região metropolitana de São Paulo e Vale do Paraíba é pobre em nutrientes e ácido.
Na Região do Vale do Paraíba e beira dos cursos d`agua temos solos importantes que são os solos de várzea, muito utilizados pela riqueza de matéria orgânica e obviamente nitrogênio para algumas culturas. O Vale do Paraíba possui um solo muito utilizado para a cultura do arroz irrigado, milho, feijão, mandioca, muito utilizados hoje.
Infelizmente nosso solo está muito degradado. Claro que nas grandes culturas o tratamento hoje já é outro, com alta tecnologia, mas no passado, infelizmente a agricultura arcaica do Brasil prejudicava muito nosso solo com o famoso plantio do “morro abaixo” proliferando a erosão laminar em sulco, deixando os solos cada vez mais pobres.
Uma grande importância para a conservação do solo é a rotação de culturas. Não manter uma monocultura que está sempre retirando os mesmo nutrientes, causando o mesmo impacto dos solos, contudo, o plantio de cana, muito difundido hoje é uma monocultura. O ideal é que na agricultura, haja uma rotação com gramíneas e leguminosas, ou seja, onde se plante folhas estreitas e folhas largas… por um período de um ou dois anos planta-se milho, por exemplo, e depois, o feijão.
Essa prática de rotatividade é muito importante para a conservação dos solos, pois evita a proliferação de alguns microrganismos prejudiciais à agricultura e empobrecimento do mesmo, se as culturas forem mal conduzidas.
4- O solo brasileiro é de alguma forma diferenciado por termos uma grande diversidade em nossa flora?
O Agronegócio é o que está dominando o PIB Brasileiro e somos o primeiro nas exportações: somos o maior exportador de soja, café e laranja. Conservar nossos solos é fundamental para que possamos manter a fertilidade e produção de nossa agricultura e colaboração na alimentação mundial.
Outra questão fundamental é a manutenção de matas próximas das encostas, nascentes e cursos d`agua para que possamos manter a fauna e a flora em equilíbrio, que contribuem com a polinização, contenção de ventos e chuvas que também afetam em nossa agricultura.
5 – Qual a missão do Engenheiro Agrônomo neste cenário?
O Engenheiro Agrônomo é um profissional que é preparado por cinco anos para diversas atividades, entre elas, o uso e conservação do solo. Eles são de suma importância para administrar o uso adequado de cada espaço da propriedade rural, qual a destinação correta de cada gleba (terras aráveis), recursos hídricos, declividades, relevos, tipos de solo, fertilidade e adubação.
Para a conservação dos solos, seu papel é fundamental, pois ele possui a formação técnica e habilitação tecnológica em relação a maquinário, sabe quais são os implementos e maquinários agrícolas inovadores, sabe fazer uso de sementes e mudas adequadas, conhece quais espécies são resistentes à cada tipo de clima e as diferenças entre os solos.
William Alvarenga Portela
Engenheiro Agrônomo
CREA 060.146.684-7